domingo, 1 de maio de 2011

1º DE MAIO DE LUTA E REFLEXÃO


O segundo dia do seminário internacional “Contextos e Desafios para a Conquista do Trabalho Decente”, que aconteceu nesta quinta-feira (28), no museu Afro Brasil, zona sul da capital paulista, trouxe momentos emocionantes ao aprofundar o intercâmbio entre as culturas brasileira e africana que o 1º de Maio da CUT-SP irá promover até o Dia Internacional do Trabalhador.
No encerramento da atividade, além das mesas de debate, a Central promoveu a exibição do filme  “Drum”, que trata da luta de um jornalista contra o apertheid.  Ao final, crianças de escolas estaduais que participavam da oficina cultural “Nossa África” foram levadas ao auditório do museu para falar sobre a experiência pela qual haviam acabado de passar.
“Não sabemos muito da cultura africana, mas ela faz parte do nosso sangue. Em cada dança nossa há um pouco do país e eu fiquei muito feliz de saber mais”, disse Nicole Cristina, de 13 anos e cabelos loiros.
Um dos coordenadores do Teatro Popular Solano Trindade, grupo responsável por coordenar a oficina, destacou a relação entre 1º de Maio e o continente africano. “O primeiro trabalhador no Brasil era negro, africano, que foi raptado em seu país de origem para colocar em prática o que sabia sobre ferramentaria, carpintaria”, disse Vitor Trindade.
Para Raquel, mãe de Vitor e filha do poeta, pesquisador, teatrólogo e pintor Solano Trindade, a família mantém vivo o princípio que norteou o patriarca. “Pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte, dizia ele.”.
Diálogo com a África
Pela manhã, a delegação de entidades sindicais de 13 nações africanas que acompanharão a semana do 1.º de Maio fizeram um balanço da luta pelo trabalho decente em seus países.
Em comum, a descrição de um movimento sindical que começa a aprimorar a organização após anos de guerra civil e exploração colonial e a necessidade de estabelecer alianças com entidades como a CUT para avançar em conquistas como a organização no local de trabalho e um salário mínimo capaz de combater a pobreza e promover o emprego digno.
Membro da Confederação dos Trabalhadores Autônomos de Dakar, Mame Saye abordou o excesso de boas intenções no Senegal que não são colocadas em prática porque emperram na postura pouco democrática do governo Abdoulaye Wade. “Ao contrário do Brasil, não há vontade política e o movimento sindical ainda não é capaz de pressionar o suficiente para implementar ações efetivas. Da mesma forma, contamos com um conselho de diálogo social com o governo, no qual aprovamos compromissos, mas esses não são respeitados”, criticou.
A dirigente relatou ainda um processo muito semelhante ao que ocorre com várias entidades em nosso país. “O governo tem o poder de domesticar muitos sindicatos criando um montante de entidade sob as asas do poder.”
Quebrar também o machismo – Logo após a participação de Mame, o representante da Organização Africana da ITUC (Confederação Internacional dos Sindicatos), Joel Odigie,criticou o pouco espaço dado às mulheres no movimento sindical. “Quando os homens são os chefes de família, as trabalhadoras acabam isoladas do sindicalismo. Além disso, a maior parte dos empregos informais, sem proteção social, são exercidos por elas e, quando necessitam, de ajuda, pelas filhas, já que na nossa cultura o menino é visto como um rei e é ele quem sai para estudar e se preparar. A feminilização da pobreza é muito clara nesse sentido”, comentou.
Para ele, a organização internacional da luta de classes é essencial para combater esse e outros problemas como a falta de políticas para a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, o trabalho  infantil, a exploração sexual e o tráfico de pessoas ainda sentidas no continente africano.

Da mesma forma que no dia anterior, o representante do Cosatu (Congresso Sul Africano dos Trabalhadores), Bongani Msuku, reforçou que a luta pelo trabalho decente deve ser a luta contra o capitalismo e deve ocorrer a partir da organização no local de trabalho. “Podemos falar quanto quisermos sobre protocolos, mas não vamos conseguir nada se não organizamos os trabalhadores no chão das fábricas.”
Os desafios para a integração 
A mesa que fechou o seminário internacional da CUT-SP apontou medidas para a inclusão dos informais, essencial para promover o trabalho decente.
Coordenador do Programa de Empregos Verdes e Trabalho Decente da OIT, Paulo Muçouçah, primeiro diferenciou as categorias de informais, separando os trabalhadores que optam por gerir sua força e não dar lucro a terceiros, caso de cooperativas, daqueles que não conseguem um emprego. Ambos os casos, acredita, representam um desafio para o movimento sindical no que se refere à representação e à inclusão em políticas de proteção social.
A opinião é compartilhada pelo vice-presidente da CUT-SP, Carlos Ramiro de Castro. “O próprio desenvolvimento fez com que as empresas contratassem mais trabalhadores formais, porém, nossa prioridade ainda é a inclusão e fazer com que eles possam  ter direitos como a Previdência”, falou.
Para encerrar, Rosane Maia, supervisora do projeto sobre Redução da Informalidade por Meio do Diálogo Social do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), comentou que é preciso levar em conta o fato da informalidade ser heterogênea e, portanto, exigir soluções de políticas diversas para combatê-la, e que também é subordinada à lógica do sistema capitalista. “O movimento sindical deve construir alternativas de representação para terceirizados, autônomos, subcontratados”, formas de contratação combatidas pela CUT por representarem a precarização das relações trabalhistas, mas que estão presentes no mercado laboral.
Algo como organizar primeiro para formar uma unidade capaz de cobrar a mudança no perfil da própria forma de absorção da mão-de-obra.
As atividades da semana do trabalhador continuam até o próximo domingo. Confira abaixo a programação:
Os debates do seminário internacional continuam nesta quarta. Leia baixo a programação:

29/04 – Seminário Sindical Internacional  "Desenvolvimento, sustentabilidade e inclusão social  – Os desafios da relação Sul-Sul" – Local Sesc Vila Mariana

30/04 – Samba com Feijoada: Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Diogo Nogueira, Leci Brandão e Marcinho do Cavaco, no Vale do Anhangabaú, a partir das 9h
Cortejos: Capoeira, Maculele, Moçambique, Jongo, Tambores do Vale
Escola de Samba Tom Maior

01/05
 – Shows: Mart´nália, banda Ilê Ayê (Bahia), Rappin´Hood, Dog Murras (Angola), Chico César e Martinho da Vila,  no Vale do Anhangabaú, a partir das 9h
Ato político sindical-social: Com sindicalistas e movimentos sociais do Brasil e da África.
Ato inter-religioso: Diversas confissões religiosas celebrarão juntas esta data internacional dos trabalhadores (as).
Ato cultural: Com a presença dos atores Celso Frateschi e Danny Glover.
Homenagens: Lula e Nelson Mandela
Atividades Simultâneas
- Exposições e Feiras
- Exposição fotográfica
- Exposição de esculturas e charges
- Feira de Livros
- Feira gastronômica
- Heróis de todo o mundo (vídeo com personagens afro-brasileiro,
fundamentais da nossa história)
- Desfile de roupas de padronagem africana
- Desfile de penteados Afro
- Exposição de tecidos 

Um comentário:

  1. Parabens pela realização do evento...os brasileiros merecem!
    Valéria Coutinho

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