segunda-feira, 26 de agosto de 2013

INCONCEBÍVEL PRECONCEITO!

Negros estudam menos, mesmo nas regiões mais ricas de São Paulo, aponta estudo

Segundo especialista, os meninos negros são os têm mais dificuldade de acesso e permanência no sistema educacional

Estudantes das periferias enfrentam mais problemas
de infraestrutura e rotatividade de professores
São Paulo – Mesmo nas regiões mais ricas da cidade de São Paulo, a população negra soma menos anos de estudo se comparada à branca e à amarela, aponta o estudo Educação e Desigualdades na Cidade de São Paulo, lançado nesta semana pela organização não governamental Ação Educativa.
“A variação no número de anos de estudo conforme ocorre o afastamento da região do centro expandido do município se dá de forma mais acentuada no interior da população branca e amarela do que em relação à população negra”, destaca o estudo. “Ou seja, mesmo em locais de maior concentração de renda domiciliar, o número de anos de estudo da população negra é inferior ao número de anos de estudo da população branca.”


Segundo o levantamento, a população branca e amarela apresenta as maiores taxas de ensino superior completo, enquanto os negros e os indígenas concentram as taxas mais elevadas da população sem instrução ou com ensino fundamental incompleto.


“A questão racial é um elemento que impacta no acesso, na permanência e no sucesso na educação. Ela opera para as desigualdades educacionais na cidade”, afirma uma das autoras da pesquisa, Denise Carreira. “O fenômeno do racismo está em toda a cidade e gera obstáculos para a permanência, sobretudo dos meninos negros, nas escolas. Há um dado nacional que mostra que os meninos e jovens negros são os mais expulsos das escolas e que mais reprovam.”
Ela reforça que o processo de especulação imobiliária, que expulsou a população mais pobre – composta por uma grande parcela de negros – para as periferias das cidades, fez que essas áreas concentrassem também mais problemas nos equipamentos educacionais. “Em geral, as escolas são mais frágeis, com condições mais precárias e maior rotatividade dos professores, elementos que reforçam as desigualdades.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CENTRAIS SINDICAIS AQUECEM OS MOTORES

Centrais aquecem os motores para o 30 de agosto, Dia Nacional de Mobilização e Paralisação

Ação unitária prioriza luta pelo fim do fator previdenciário, pela redução da jornada para 40 horas semanais e combate ao PL 4330 da terceirização


Vagner Freitas destaca papel da mobilização unitária das centrais para garantir avanços
Ultimando os preparativos para o 30 de agosto, Dia Nacional de Mobilização e Paralisação, as centrais sindicais decidiram em reunião na sede da CUT Nacional, nesta segunda-feira (19), ampliar a convocação de Norte a Sul do país priorizando a luta pelo fim do fator previdenciário, redução da jornada de trabalho para 40 semanais e combate ao Projeto de Lei 4330, da terceirização.
Na avaliação das centrais, a conjuntura é favorável à manifestação, que dá continuidade aos protestos, passeatas e greves realizadas no 11 de julho, e potencializa a cobrança da pauta da classe trabalhadora. A agenda de reivindicações inclui ainda a luta pelos 10% do PIB para a Educação; 10% do Orçamento da União para a Saúde; transporte público e de qualidade/mobilidade urbana; valorização das aposentadorias; reforma agrária e suspensão dos leilões de petróleo.
“Estamos enfrentando as dificuldades diante de um governo de disputa em que muitas vezes os interlocutores vão se alternando. Daí a importância da pressão conjunta, da unidade de ação do movimento sindical para impedir retrocessos e ampliar conquistas”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas, para quem “o próximo dia 30 se soma ao ato vitorioso do 11 de julho, são manifestações para alterar o jogo”. “Com os trabalhadores em campo, paralisando atividades, realizando protestos e passeatas, acumulamos força para pressionar o Congresso Nacional e o governo federal. Foi assim que conseguimos na semana passada os recursos para o Fundo Social do pré-sal, foi essa luta colossal que tem impedido que eles passem o PL 4330 de qualquer maneira, impondo uma terceirização indiscriminada”, ressaltou o presidente cutista.
Ao destacar o papel perverso do PL 4330, o secretário geral da CUT, Sérgio Nobre, lembrou que “país de primeira não pode ter emprego de terceira”. Sérgio destacou a importância da mobilização do conjunto das categorias, em todos os Estados, para garantir a igualdade de direitos, de condições e de salário, direito à informação prévia, proibição na atividade-fim, responsabilidade solidária das empresas contratantes e penalização das empresas infratoras, tudo o que setores do patronato querem apagar da legislação.
Estudos do Dieese apontam que o trabalhador terceirizado recebe salário 27% menor que o contratado diretamente, tem jornada semanal de três horas a mais, permanece 2,6 anos a menos no emprego, e sua rotatividade é mais do que o dobro (44,9% contra 22%). Além disso, aponta o Dieese, a cada 10 acidentes de trabalho, oito acontecem entre os terceirizados.
REFORMA AGRÁRIA, JÁ!
Membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues condenou a postura do governo federal que “nem desapropria terra nem senta com o movimento”. “Temos 80 mil famílias acampadas que necessitam ter prioridade nesse momento. Nos somamos à manifestação das centrais sindicais bastante animados de que o aumento da pressão vai abrir caminho para os avanços que o nosso povo e o Brasil precisam”, acrescentou.
Para o secretário geral da Central Geral dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CGTB), Carlos Alberto Pereira, “o momento é de avanço do movimento sindical” e reflete os avanços obtidos a partir da mobilização de junho, que reuniu dois milhões de trabalhadores em mais de 250 cidades. “De lá para cá tivemos três vitórias: a do Fundo Social do Pré-Sal, que garantiu mais de 200 bilhões de reais para a educação nos próximos dez anos; adiamos o PL da terceirização por 30 dias, barrando a tentativa de golpe que busca ampliar e legitimar a precarização; e aceleramos a nossa mobilização, o que tem sido fundamental para aprofundar as negociações com o governo e o Congresso Nacional”, disse Pereira.
PROTAGONISMO DA CLASSE
De acordo com o secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), “construída na luta, a pauta unitária dos trabalhadores tem repercutido positivamente junto às bases e contribuído para que o papel do movimento sindical seja valorizado na mesa de negociação”. Juruna lembrou que, apesar da campanha dos grandes conglomerados de comunicação para invisibilizar ou diminuir o protagonismo da classe trabalhadora na luta por mudanças, a ação unificada tem rendido frutos e demonstra a correção da iniciativa.
O secretário geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Pascoal Carneiro, relatou da grande receptividade que a convocação do 30 de agosto vem tendo pelo país, citando a assembleia realizada recentemente na capital baiana, “onde há muita disposição de parar para colocar o país nos trilhos”. “O sentimento é de greve no dia 30 em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, combatendo a precarização e o retrocesso”.
Representando a Intersindical, Edson Carneiro (Índio) reiterou o papel da caminhada conjunta, com unidade na diversidade, para fazer a pauta avançar. “O processo que o país está vivendo não é sindical, mas político, o que reforça a importância da pressão por mudanças na política econômica, como o fim do superávit primário. Queremos inverter a lógica do que beneficia o grande capital rentista, o agronegócio e as empreiteiras”, frisou Índio.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, disse que além de reivindicar do governo ações concretas em benefício da sociedade, o movimento sindical precisa realizar uma grande manifestação no Congresso Nacional. “Nos 25 anos da Constituição de 1988, devemos apontar os nós que precisam ser desatados para que o país avance, pressionando os parlamentares a que tomem posição ao lado dos trabalhadores”, enfatizou Patah.
A luta contra a precarização das relações de trabalho, apontou o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto, deve ser amplificada, “tanto no setor privado quanto público”. “A lei 8666 que dispõe sobre a contratação direta significa contratação via preço, o que representa trabalho mais barato, precário. Esta é uma questão que precisa ser alterada com urgência”, defendeu.
Em nome da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Luiz Gonçalves (Luizinho), enfatizou o compromisso de “parar aonde for possível no próximo 30 de agosto”. “O volume do nosso protesto é essencial para mostrar que o movimento sindical está engajado em buscar o resultado das nossas negociações, a melhoria das relações de trabalho e o desenvolvimento do país”, concluiu.

Escrito por: Leonardo Severo


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

SP: CARTEL, METRÔ FALIDO, BANDALHEIRA, ETC...

Coleta de assinaturas para CPI da corrupção tucana começa nesta segunda (19)
De acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que ficará responsável pela coleta de assinaturas dos deputados, a bancada petista na Câmara fechou o texto pedindo a investigação sobre a denúncia de formação de cartel em São Paulo, corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Petistas na Câmara e no Senado começam a coletar nesta segunda (19) as assinaturas necessárias para criar a CPI mista da Siemens. O alvo principal da investigação é o esquema denunciado pela empresa alemã sobre a formação de um cartel para fraudar licitações do metrô em São Paulo e no Distrito Federal. O texto do requerimento será fechado nesta sexta-feira (16).
De acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que ficará responsável pela coleta de assinaturas dos deputados, a bancada petista na Câmara fechou o texto pedindo a investigação sobre a denúncia de formação de cartel em São Paulo, corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. “Acho que não vai ser difícil conseguir assinaturas, temos o apoio de partidos da base”, garantiu o deputado ao Congresso em Foco.
Inicialmente, a ideia dos petistas era apresentar o pedido na Câmara. No entanto, com duas CPIs em funcionamento e outras duas autorizadas, o requerimento iria para uma fila com outras 17 comissões. Somente cinco podem funcionar ao mesmo tempo na Casa. Por isso, passaram a articular a investigação mista. Atualmente no Congresso não existe nenhuma comissão autorizada a funcionar. São necessárias as assinaturas de pelo menos 171 deputados e 27 senadores.
A Siemens denunciou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) um esquema de fraude em licitações para construção do metrô paulistano e para a manutenção dos trens no Distrito Federal. Em troca de entregar as empresas participantes e documentos, ganhou imunidade em um processo. Em valores atualizados, os contratos passam de R$ 1,9 bilhão.
Os contratos assinados inicialmente atingem administrações do PSDB em São Paulo e do ex-governador José Roberto Arruda no Distrito Federal, na época no DEM, que foi preso em 2010 acusado de tentar subornar uma testemunha da Operação Caixa de Pandora. No entanto, apareceram denúncias de irregularidades em Salvador (BA), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS).
Quando surgiu a denúncia em São Paulo, petistas se apressaram a tachar o caso como “trensalão” como uma resposta ao mensalão, que voltou a ser julgado nesta semana pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Porém, com a divulgação de mais informações, passaram a adotar cautela. “A primeira coisa [a fazer] é uma investigação. Não dá para fazer um pré-julgamento político”, comentou Teixeira.
por Mario Coelho - Congresso em Foco publicada em 19/08/2013 10:35

ENTULHO TELEVISIVO

Em pesquisa, população desfia críticas à programação da tevê

Mais da metade dos brasileiros acha que emissoras tratam menos do que deveriam dos problemas do país, e 43% não se identificam com o que é exibido na telinha
São Paulo – A televisão não trata dos problemas do país com a frequência que deveria, além de nem sempre mostrar a diversidade do povo brasileiro, assegura a pesquisa “Democratização da Mídia”, conduzida entre os meses de abril e maio pela Fundação Perseu Abramo, entidade ligada ao PT.
Quase 57% da população acredita que as emissoras poderiam se dedicar mais à discussão das mazelas nacionais. Porcentagem um pouco menor (54,3%) acha que a programação não dá muita ênfase à pluralidade étnica, cultural, religiosa e política da população – 22% observam que a tevê simplesmente não mostra essa variedade.

O resultado dessa percepção é que 51% dos brasileiros creem que a televisão não mostra a realidade, e 43,3% não se reconhecem na tela ao ligar seus aparelhos. Quando questionados sobre se a tevê “defende interesses de pessoas como você”, 55,4% responderam que “só de vez em quando”. Para 28,5%, os canais “nunca” estão ao seu lado. Também “só de vez em quando” a televisão mostra “pessoas que pensam como você”.

A pesquisa da Fundação Perseu Abramo também detectou como os brasileiros veem o tratamento dado pelas emissoras a negros, nordestinos e mulheres. Entre 45% e 50% dos entrevistados acreditam que os canais de tevê costumam tratar essas populações com desrespeito. Mais da metade acredita que os negros aparecem menos do que deveriam. Para 38,5%, os programas infantis contribuem “negativamente” para a educação das crianças.

sábado, 17 de agosto de 2013

FACEBOOK: "ESPIRAL DE FELICIDADE"?

Usuários estão ficando mais atentos aos desvios da rede social

Perto de seus dez anos, o Facebook já não é mero espaço de encontro, mas um fenomenal depósito de informações, uma potente ferramenta de negócios e uma triste vitrine de felicidade ilusória

SERGIO AMARAL/RBA
Valentina: “Parece que agora precisamos mostrar nossos sentimentos, como se isso criasse uma identidade”. Laura: “Percebi que teria de abrir uma conta nova. Voltei com mais cuidado”
Assim como política, religião e futebol, Facebook não se discute. Cada um do cerca de 1 bilhão de usuários enxerga essa rede social com forma e propósitos diferentes. Ninguém pode discordar que ela flutua a favor da maré e cresce exponencialmente, para a felicidade de seu jovem proprietário e dos acionistas da empresa. Essa expansão, no entanto, não necessariamente representa benefícios para aquele que deveria ser seu bem mais precioso: o público, cada vez mais ressabiado, como apontam pesquisas, com a falta de privacidade. Nem isso, porém, parece ter diminuído o ímpeto de compartilhar informações, atitudes cotidianas ou se envolver em algumas das tribos que deixaram o sofá e foram às ruas protestar contra os problemas nacionais.
Muito se tem investigado a respeito do usuário dessa mídia, que vem mudando junto com ela. Esse assunto é ainda mais relevante no Brasil, onde está o povo que mais gasta tempo em redes sociais e cada vez mais é instigado a um novo comportamento: a superexposição voluntária.
“Comparo as novas mídias sociais a uma grande festa, um lugar acolhedor e descontraído onde euforicamente nos sentimos livres para nos exibir. Ali, agimos como se estivéssemos sonhando com os olhos abertos, em um estado alterado de consciência que reduz nossas defesas e nosso senso crítico”, acredita a psicóloga Katty Zúñiga, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Clínica Psicológica da PUC de São Paulo. “A pessoa entra na rede social e ‘cresce’ de acordo com o estímulo que recebe de amigos e conhecidos. Esse fato então se mescla à sua bagagem cultural: se o brasileiro é por natureza mais expansivo, com certeza vai se expor mais que um boliviano, por exemplo”, explica a professora Beth Saad, coordenadora do curso de pós-graduação em Comunicação Digital na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Quem é usuário sabe do que Beth fala, e boa parte do que hoje se vê ali postado deixa evidente a sensação de liberdade do autor, que muitas vezes escreve o que não diria cara a cara e mostra imagens que “ao vivo” não exibiria – ou, pior, exibe uma agressividade que não costuma pessoalmente expressar. “Esse me parece o lado complicado do Facebook. Acho que, ali, as pessoas se tornam mais agressivas. A questão do anonimato, também permitido no mundo virtual, é outro aspecto que pode levar a situações desagradáveis. Mas não tem jeito: tudo isso faz parte desse movimento”, considera Joel Bueno, bancário aposentado que viu no Facebook uma forma de divulgar mais amplamente seu blog.

Espiral da felicidade

Talvez a euforia descrita por Katty também explique o fenômeno chamado “espiral da felicidade”. A tendência aparece em pesquisas: o usuário vê seus amigos felizes e, por isso, evita postar mensagens “pra baixo”. “De forma geral, a rede é como uma onda, na qual quando um está feliz o outro precisa dizer que também está e, mais ainda, precisa ‘curtir’ a felicidade alheia”, afirma Beth Saad. Essa permanente festa de um mundo irreal, no entanto, traz sofrimento. Segundo um estudo recente realizado pelas universidades alemãs Humboldt, de Berlim, e de Ciências Aplicadas de Darmstadt, mais de um terço dos usuários do Facebook enfrenta sentimentos negativos como frustração e tristeza depois de visitar o perfil dos “amigos”.

E aí entra uma questão sobre conceito de amigo do ponto de vista da rede social. “Já está claro que não segue o mesmo conceito da vida real. Na rede, você se torna amigo de quem é celebridade, de quem posta ideias interessantes, de quem é amigo de um amigo”, diz Beth. Ou seja, a construção de uma rede de relacionamento não segue, a rigor, nenhum critério, e amigos podem ser clientes, colegas de trabalho e até o chefe, lado a lado com a tia-avó e os filhos da melhor amiga. Haja confusão.
JAILTON GARCIA/RBA
“Como posto muito, sei que me exponho e deveria ser mais comedida”
“Já levei bronca dos meus amigos porque na minha página estão meu network profissional, minha família e meus amigos. Eu não deveria ficar expondo o mundo de um aos outros, mas não consigo ainda dividir minha página. Assim, como posto muito, sei que me exponho e deveria ser mais comedida”, descreve a assessora de eventos Carolina Birenbaum.

Com mais de 2.700 amigos em sua página, ela utiliza o Facebook também com fins profissionais e armazena o portfólio de sua empresa. Já a secretária Eliane Ferraz de Souza Morales, usuária há cerca de um ano, vai ao extremo oposto. “Uso o Facebook para acompanhar as novidades de meus amigos. Mas a minha intimidade eu não publico – não vejo por que tornar públicos assuntos que são somente meus.”
Mas nunca foi tão difícil separar alhos de bugalhos: a divisão do que é pessoal daquilo que é profissional, em vez de se tornar clara, é cada vez mais tênue, assim como a distinção entre o que é de interesse comum e o que é puramente merchandising. “O Facebook nasceu com o intuito de ser um lugar onde as pessoas poderiam compartilhar suas experiências. No entanto, o que vemos agora? Mil adds, apps e praticamente um canal de propaganda de todos os centros comerciais do mundo”, afirma a fotógrafa 
Solange Benasulin, que utiliza a ferramenta para divulgar seu trabalho.

Essa face mercantilista está cansando usuários – e já há quem esteja se afastando. A alteração do perfil do Facebook soa, para Sérgio Basbaum, como o fim de uma época mais “inocente” da ferramenta. “Quando entrei, em 2007, achei o Facebook interessante. A sensação que tinha ao navegar ali era a mesma de quando eu, no passado, ia à praia no Rio de Janeiro. Encontrava uma amiga aqui, um grupo ali, um amigo antigo que não via há tempos. Ainda existe essa dinâmica interessante. O lado esquisito é que virou um espaço utilitário e perdeu, com isso, sua ingenuidade inicial”, avalia ele, que é pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD) na PUC-SP.

A ilustradora Valentina Fraiz decidiu “voltar à vida analógica”. Usuária por anos, ela sempre foi questionadora do nível de exposição ao qual as pessoas pensadamente se propõem: “Não entendo de onde vem esse prazer. Parece que agora, o tempo todo, precisamos mostrar como estamos nos vestindo, nossos sentimentos, nossos gostos, como se isso criasse uma identidade. Sempre provoquei as pessoas: ‘Ei, galera, prestem atenção no que vocês estão postando!’ E, quanto mais eu questionava, mais as pessoas me bloqueavam”.

A motivação final para sair dessa rede surgiu quando as páginas de algumas amigas foram bloqueadas em função de fotos postadas. “Elas participaram de um evento público, a Marcha das Vadias, que acontece no mundo inteiro, e apareciam nas fotos com os seios pintados, uma situação absolutamente não sexual. Foi censura. Como assim? Você tem de se ajustar, dar todas as suas informações e, em troca, levar para casa um patrulhamento moral?”, questiona Valentina.
O que não estava no script era deparar com uma espécie de crise de abstinência. Semanas depois de ter ‘morrido’ no Face, ela abria o computador e mecanicamente começava a digitar o endereço dele. “Minha filha Laura, que curtiu minha iniciativa, também saiu durante seis meses. Sofreu muito, pois ficou em um tal grau de isolamento em relação aos amigos que era impossível suportar. E fui eu mesma que a aconselhei a voltar.”
Laura explica que tinha mudado para uma cidade nova, não tinha amigos, e estar fora da rede atrapalhou. “Eu ficava sabendo de uma festa só depois, e percebi que não estava sendo chamada porque os convites eram publicados só no Face.  Uma hora percebi que teria de abrir uma conta nova. Voltei com uma atitude nova, com mais cuidado para não expor minha vida como antes. Sou discreta sem ser ausente.”

Quem usa quem?
JAILTON GARCIA/RBA
"Uso o face para acompanhar novidades de amigos.  Mas a minha intimidade eu não publico
Difícil traçar um padrão para todos os usuários, pois há de tudo um pouco: o reclamão, que percebe a propagação que o Face tem; o solitário, que posta madrugada adentro e lança bom-dia e boa-noite para o mundo inteiro; o voyeur, que não posta nada, mas acompanha tudo; o ideólogo de plantão; o comentarista esportivo; o espalhador de confete. Há de se considerar também a tribo dos que não estão no Facebook, como a diretora de teatro Inês Saldanha, que há anos alimenta, segundo ela, uma preguiça imensa de participar. “Acho que é invasivo e chato. Por vezes é profundamente poderoso, por outras, leviano. Ainda prefiro me relacionar com algo que seja tridimensional”, brinca.
Quanto ao padrão de uso, há referências claras, que dividem os brasileiros em três grandes grupos. O maior deles o utiliza com postura de entretenimento e relacionamento pessoal, e em geral dá muito ‘curtir’ em propagandas e marcas. Frequenta aplicativos, jogos e dissemina muitas mensagens genéricas, de estilo de vida, saúde, religião. O segundo privilegia a construção de um grupo de contatos bem estudado, normalmente motivado por um interesse específico, seja intelectual, seja profissional. Já o último grupo costuma visitar “fan pages” de empresas, fazendo um uso mais mercadológico e publicitário da ferramenta, que por trás o incentiva a disseminar esse conteúdo para uma rede de pessoas. Uma vez ali, as empresas passam a ter acesso aos perfis e, assim, a trabalhar conteúdos direcionados.
Um estudo realizado em 2012 pela Hi-Mídia, empresa de mídia on-line, e a M.Sense, especialista em pesquisa sobre o mercado digital, mostrou o que o Facebook representa a partir do ponto de vista mercadológico: foi considerado como mídia de “elevada penetração junto ao público” devido à sua alta frequência de acesso (75% dos entrevistados o visitavam ao menos uma vez por dia); 72% discutiam em suas páginas sobre produtos e estavam familiarizados com compras on-line; e 12% já compraram diretamente no Facebook, percentual considerado elevado. “Eu já fiz compra pelo Face, é uma ferramenta importante e diária. Mas precisa saber usá-lo, filtrando os conteúdos que chegam até você – percebo, pela página de alguns amigos, que nele é possível desperdiçar tempo sem nenhum benefício. Depende de cada um definir como quer usá-lo”, diz o assistente financeiro Thiago Eráclito.
Seja como for, é evidente que o Facebook está a “dois palitos” de se transformar na mais potente ferramenta de vendas do globo, por meio da qual as empresas conseguem fazer ofertas de uma forma tão orientada quanto nunca foi possível antes – e isso graças ao próprio usuário, que oferece tantas informações pessoais em troca de... nada. Quanto tempo cada usuário gasta na internet, quais empresas visita, quantas vezes viaja a lazer e qual seu programa de TV favorito são apenas migalhas do imenso arsenal de conhecimento concentrado ali.
LUCIANA WHITAKER/RBA
“As pessoas se tornam mais agressivas, mas não tem jeito: tudo faz parte desse movimento”
Impossível prever quão mais longe o Facebook vai chegar. Sérgio Basbaum o vê como um “boteco da moda”: na hora que aparecer um mais descolado, todo mundo vai migrar. Mas esse outro ainda não apareceu. “Toda plataforma de relacionamento tem um ciclo de vida, basta lembrar do Orkut ou do My Space. Nesse momento, o Face está entrando em um patamar em que ou ele se reformula, ou outras poderão tomar seu lugar. É um ciclo de amadurecimento natural”, acredita Beth, enquanto Valentina imagina que o pior ainda está por vir: “Dentro de alguns anos, o Facebook será tão dono de nossas informações que teremos de pagar para poder mantê-las em privacidade”. Tudo dito, nada concluído, talvez não dê mesmo para saber que rumo a coisa vai tomar – mas há de se perder, e já, a inocência.

PROFESSORES PAULISTAS NAS MÃOS DA TIRANIA!

'Alckmin trata professores como escravos da educação', acusa sindicato
Governo inaugura hoje projeto que permite que professores trabalhem – precariamente – até 65 horas por semana na rede pública estadual
São Paulo – A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo abre hoje (15) as inscrições para que os 181,5 mil professores efetivos e estáveis da rede estadual possam acumular o cargo com a contratação temporária e aumentar a carga horária em até 65 horas semanais. O projeto foi anunciado em julho pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Até então, a carga horária máxima de um professor era de 40 horas semanais.
De acordo com a secretaria, a mudança permite que um professor com jornada de 40 horas semanais, por exemplo, possa acumular até 25 horas extras, o que representa um ganho financeiro de cerca de R$ 1.400 ao mês, além do salário-base somado às gratificações que variam de acordo com cada servidor. Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), a medida do governo Alckmin precariza o trabalho do profissional da educação. “ O governo do estado não tem tido sensibilidade para tratar os professores, os trata como escravos da educação”, afirmou Maria Izabel Noronha, a Bebel, presidenta da Apeoesp, à Rádio Brasil Atual.
A proposta de Alckmin, segundo ela, apesar de parecer valorizar o professor, já que permite maior remuneração, não atende às reivindicações que a categoria faz há anos, como o cumprimento da jornada com o piso salarial profissional nacional. “O que está por trás é a política de desoneração do governo. E desvalorizar os professores, tipo 'quer ganhar um pouco mais, dá mais aulas'. Não é isso que queremos. Queremos ganhar mais, valorizar nossos salários, mas com a jornada que já temos e aplicação do piso salarial, isso sim é política de valorização.”
Ela ressalta que as horas extras serão contradadas na condição de professor temporário, em que os direitos trabalhistas são bastante reduzidos. “O professor será admitido em caráter temporário, da forma mais precária que existe, não tem direito a ficar doente, a nada. É algo muito contraditório. A ideia é resolver problemas de falta de professores, mas a condição central para isso é ter um plano de cargos com salários atrativos para professores que fazem opção de estar só na rede estadual.”
No dia 30 de agosto haverá uma mobilização dos professores pela valorização dos profissionais da educação. “Vamos fazer uma grande uma grande caminhada em defesa da escola pública, do piso salarial profissional nacional e pela valorização dos profissionais da educação.”

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

ROUBALHEIRA TUCANA - MAIS DENÚNCIAS!

Metroviários encaminham ao Cade novas denúncias sobre cartel em São Paulo

Órgão responde que alegações, em princípio, 'não se configuram matéria de competência da autarquia, responsável por apurar e punir condutas anticompetitivas adotadas por empresas'

São Paulo – Uma nova denúncia de formação de cartel em contratos envolvendo o Metrô de São Paulo foi encaminhada na segunda-feira (12) ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pela Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro). A informação é da própria federação.
Segundo a federação, um dos indícios de formação de cartel em contratos envolvendo o Metrô de São Paulo refere-se à reforma de 98 trens do Metrô. Um pedido de investigação sobre o caso foi encaminhado ao Ministério Público na época pelo então deputado estadual Simão Pedro (PT) e ainda é objeto de investigação pelo órgão.
Segundo o documento, foi aberta uma concorrência em 2009 para a reforma de 98 trens do Metrô. De acordo com a Fenametro, a reforma dos 98 trens custou R$ 1,75 bilhão. “Ao optar pela 'modernização', em vez da aquisição de novos trens, seria natural supor que o Metrô teria uma economia considerável. Porém, não foi o que se verificou. Na prática, a licitação para a reforma dos trens chegou a um custo final de 86% do valor de um trem novo, causando prejuízos milionários ao Erário”, diz a federação, por meio de nota publicada em em sua página na internet. De acordo com a federação, a reforma dos trens foi dividida entre várias empresas que são hoje investigadas pelo Cade por formação de cartel.
Outro indício de irregularidade apontado pela Fenametro se refere à implantação de um novo sistema de sinalização e controle, chamado de CBTC (Communication Based Train Control). O sistema permite diminuir o intervalo de circulação dos trens nas estações. A federação diz que a implantação foi dividida entre várias empresas, algumas também citadas no esquema de formação de cartel investigado pelo Cade e argumenta que, até hoje, o sistema não foi implantado nas linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha do Metrô.
“O contrato firmado em 2008 dizia que, em 2011, o novo sistema estaria operando nas três linhas do Metrô. Entretanto, nos testes feitos na Linha 2 foram detectados problemas sérios de segurança aos usuários e metroviários. Ou seja, estamos em 2013 e o governo de estado não dá qualquer explicação à população sobre o fracasso desta modernização”, disse a federação.
Um terceiro indício de irregularidade, apontou a federação, diz respeito à implantação de porta de plataforma nas linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha do Metrô, semelhante à que existe na Linha 4-Amarela. “As portas de plataformas seriam instaladas nas estações para abertura e fechamento, simultaneamente, com as portas dos trens. O objetivo é evitar a queda de usuários e de objetos na via permanente, porque as portas de plataforma não abrem enquanto o trem não estiver corretamente alinhado na plataforma”, explicou a federação.
De acordo com a federação, o projeto original previa o fornecimento e a implantação de 48 portas de plataforma para 18 estações distribuídas entre as três linhas mais antigas do Metrô pelo valor total de R$ 72.545.095,96. “É importante registrar que o processo de implantação se iniciou pela Estação Vila Matilde, mas até a presente data não funciona. Em outras palavras, 'as portas automáticas' ficam permanentemente abertas”, disse a Fenametro.
Denúncias de irregularidades em contratos envolvendo o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) estão sendo investigados pelo Ministério Público de São Paulo e também pelo Cade. No Ministério Público há 45 investigações em curso, que começaram a ser reavaliadas após divulgação de que o Cade está apurando se as empresas que participaram das concorrências do Metrô e da CPTM formaram um cartel para elevar o valor dos contratos. Todas as investigações estão sob sigilo e o Ministério Público não informa detalhes sobre elas.
O Cade disse que as alegações apresentadas pela Fenametro durante o encontro entre ambos, em princípio, “não se configuram matéria de competência do Cade, autarquia responsável por apurar e punir condutas anticompetitivas adotadas por empresas ou seus administradores”.
O Metrô disse que, nos contratos que foram firmados à época pela companhia, a modernização de um trem representou 60% do preço total de um trem novo. “E o padrão de desempenho de um trem reformado é o mesmo de uma nova composição, com sistema de tração mais econômico, ar-condicionado, câmeras de vigilância, sensores para detecção de fumaça, sistema de comunicação eletrônico aos usuários, entre outros, além de permitir vida útil de mais 30 anos”, informou a companhia.
Para o Metrô, “é absurda a informação de que há indício de combinação entre empresas" na instalação do CBTC. "A Alstom foi a vencedora da licitação por apresentar o menor preço para implantar o sistema nas linhas 1, 2 e 3 do Metrô. O contrato foi assinado em 2008”, disse. Segundo o Metrô, a Alstom foi multada em R$ 77 milhões pelos atrasos na instalação do CBTC. O sistema de comunicação, segundo a companhia, foi implantado na Linha 2-Verde e funciona no trecho entre as estações Vila Prudente e Sacomã. “As instalações nas linhas 1 e 3 estão em fase de execução final”, informou.
Sobre as portas de plataformas da Linha 3-Vermelha, o Metrô disse que, conforme foi noticiado diversas vezes pela imprensa, “uma das empresas integrantes do consórcio contratado para instalar as portas de plataforma apresentou dificuldades financeiras. Isso acarretou em atraso no cumprimento do contrato. O Metrô multou a empresa em 10% do valor do contrato, não havendo qualquer prejuízo para a companhia”.
Em entrevista coletiva concedida na tarde de ontem (13) no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que vai processar civilmente a empresa Siemens, acusada de formação de cartel em contratos firmados com o estado entre os anos de 1999 e 2009. De acordo com o Executivo paulista, a empresa será processada por ter lesado os cofres públicos. Alckmin explicou que a Siemens será processada agora porque já assumiu, em um acordo de leniência com o Cade, que praticou cartel em licitações de metrô e trens no estado.

O ROUBO DE 20 QUILÔMETROS DO METRÔ SP


"Propinoduto" pagaria
20 quilômetros de metrô

As denúncias sobre os desvios de recursos públicos para o pagamento de propinas a integrantes do Governo do Estado de São Paulo se multiplicam. Desde 1990, no governo Fleury Filho, até este ano – passando pelas administrações dos tucanos Mario Covas (1995/2000), Geraldo Alckmin (2001/2006 e 2011/2013) e José Serra (2007/2010) –, os contratos dos esquemas que envolvem empresas como a Alstom e a Siemens somaram mais de R$ 30,5 bi (em valores corrigidos). As informações foram apuradas pela liderança do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Essas empresas, que estão sendo investigadas pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no Brasil e por autoridades internacionais, informaram ter pagado propinas a integrantes dos governos tucanos de 8% sobre o valor da obra, além do superfaturamento que chegava à casa dos 30%.

Levando em conta o valor dos contratos firmados (R$ 30,5 bi) ao longo de mais de vinte anos com estatais como Metrô, CPTM (trens metropolitanos), Cesp (energia), Sabesp, dentre outras, a liderança do PT na Alesp, chegou ao montante R$ 9 bi desviados em pagamento de propinas, o chamado “propinoduto tucano”.  Esse valor, de acordo com a bancada petista, cobriria a construção de 20,3 km de trilhos para o metrô, equivalente a uma Linha Azul que transporta 1 milhão de passageiros nos dias úteis. “Isso quer dizer que, sem o propinoduto, São Paulo poderia ter pelo menos 94,3 km de metrô, o que poderia desafogar e muito o aperto a que os cidadãos estão expostos todos os dias”, afirma o ex-presidente do Sindicato e líder da bancada do PT na Alesp, o deputado Luiz Claudio Marcolino.

Tarifa zero – Traçando um paralelo com a demanda que tomou as ruas no mês de junho -- a tarifa zero nos transportes públicos --, o valor de R$ 9 bi em propinas pagas garantiria quatro anos dessa situação.

Se aplicado na ampliação das linhas de metrô, permitiria o transporte de 400 mil pessoas/dia a mais na cidade de São Paulo. Os cálculos foram feitos de acordo com planilhas do Metrô.

Protesto – Para protestar contra essa situação, a Central dos Movimentos Populares (CMP-SP) está convocando a população a participar do Ato pela Instalação da CPI da Corrupção no Metrô e CPTM. O protesto será realizado na quarta-feira 14, a partir das 17h na Alesp, bairro do Ibirapuera, na capital.

O objetivo, além de cobrar a Comissão Parlamentar de Inquérito, é cobrar resposta do governo Alckmin sobre as denúncias de formação de cartel por essas empresas, que em troca de apoio nas licitações das obras teriam desviado recursos públicos e pago propina a políticos do PSDB no estado.

O pedido de CPI elaborado pela bancada do PT necessita da assinatura de 32 deputados para ser protocolado na Assembleia Legislativa. Até a tarde da quarta-feira 14, somente 26 deputados haviam assinado a solicitação. Os petistas já fizeram outras três tentativas de investigar a relação dos governos tucanos com empresas como a Alstom e a Siemens, todas engavetadas pela bancada governista na Alesp.

ATO CONTRA A MÁFIA DO TRANSPORTE PÚBLICO EM SP


CUT/SP convoca militância para atos que denunciam corrupção de governos tucanos no transporte público

Fora dos trilhos, governo PSDB paulista precisará dar respostas à população paulistana

A Central Única dos Trabalhadores de São Paulo convoca sindicatos, trabalhadores/as e toda a sua militância para a mobilização que ocorrerá nesta quarta-feira (14), contra a máfia do transporte público em São Paulo. A CUT/SP estará presente tanto no ato que se realizará no Vale do Anhangabaú, a partir das 15h, quanto na Assembleia Legislativa de São Paulo, a partir das 17h.
A manifestação cobrará resposta do governo do PSDB sobre denúncias de formação de um cartel pelas empresas Siemens, Alstom, CAF, Bombardier, TTrans e Mitsui que, em troca de apoio nas licitações de obras do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), teriam desviado recursos públicos e pago propina a políticos tucanos do PSDB em São Paulo.
O fato é antigo, mas o tema voltou a ter destaque na última semana na grande imprensa, a partir das denúncias feitas pela multinacional alemã Siemens, em acordo realizado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que, como compensação, dará à empresa imunidade criminal e civil.
O apoio oferecido pelo Governo de São Paulo à Siemens e às demais empresas data de 1998, época da gestão Mário Covas (PSDB). A corrupção continuou pelas administrações de José Serra e Geraldo Alckmin, sem que nenhuma providência fosse tomada para resolver as denúncias de roubo do dinheiro público.
Com aval do PSDB, duas das empresas, Siemens e Alstom, ganharam até 2008 R$ 12,6 bilhões em contratos com o governo paulista. A participação de 18 empresas nesse esquema se reverteu num superfaturamento estimado em R$ 577 milhões
A Central dá total apoio às investigações realizadas pelo Cade e exige a apuração dos 15 processos existentes no Ministério Público. A CUT/SP reivindica também a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para apurar o caso e dar visibilidade às denúncias de fraudes nessas licitações.
As últimas mobilizações realizadas pelo povo paulistano em junho e julho deste ano demonstram a insatisfação da população contra a corrupção e o governo tucano (PSDB) precisará responder às acusações.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

MÍDIA E METRÔ TUCANO: COMO SERVIR A DEUS SEM TRAIR O DIABO?


Nunca a sorte política do PSDB – seus caciques e derivados— dependeu tanto da indulgência da mídia conservadora como agora.

E nunca, como agora, esse centurião de todas as horas esteve tão frágil para ajudá-los.

A sobrevivência mesmo esfarrapada do PSDB depende dramaticamente da decisão em torno da qual orbitam há dias os proprietários, editorialistas, colunistas, pauteiros e mancheteiros do dispositivo midiático conservador.

Aliviar ou não para um PSDB mergulhado até o nariz no conluio com oligopólios e corrupção no caso das licitações para compra de vagões do metrô, em São Paulo?

A hesitação no ar é tão densa que dá para cortar com uma faca.

Jorros de ambiguidade escorrem dos veículos impressos no café da manhã.

Num dia, como na 4ª feira passada, a Folha escondeu o escândalo retirando-o da 1ª página.

Mas encontrou espaço para estampar ali outra ‘grave denúncia’: a reforma de calçadas no centro de São Paulo não tem plano equivalente para as periferias.

Na edição seguinte, porém, o jornal dos Frias precipitou a publicação de um indício de envolvimento direto de José Serra com o cartel, em 2008.

Como?

Jogou a informação no papel. Sem investigar a fundo, como deveria, e fez, quando o alvo eram lideranças progressistas.

Não ouviu outros executivos de empresas participantes da mesma licitação, não biografou o braço direito do governador na operação denunciada pela Siemens. Não foi até Amsterdã ouvir testemunhas, checar informações, refazer o roteiro de Serra, conferir reuniões no hotel etc etc.

O secretário de transportes metropolitanos de Serra, então, e segundo a denúncia da multinacional alemã, parceiro do governador nas tratativas, era o engenheiro José Luiz Portella.

Por que o perfil de figura chave não foi esmiuçado?

Colunista da Folha atualmente, Portella é um quadro clássico: perfil público rebaixado, versatilidade operacional elevada dentro do PSDB.

Ela inclui serviços prestados ao governo FHC, no ministério da Educação, dirigido por Paulo Renato de Souza, já falecido.

Por acaso, Paulo Renato seria seu companheiro também no governo Serra, quando a secretaria da Educação de SP adquiriu, sem licitação, cerca de R$ 8 milhões em assinaturas de jornais , revistas e outras publicações dos grupos Estadão, Globo e Abril. (Em 2010 Serra deixaria o governo de SP para, com apoio da mídia, ser derrotado outra vez em uma disputa presidencial, agora por Dilma Rousseff.)

A pressa da Folha em veicular uma denúncia séria sem investigação anterior –e tampouco posterior, sintetiza um certo desespero que perpassa todo o dispositivo midiático conservador nesse momento.

A angústia deriva da difícil missão que os acontecimentos impõem ao jornalismo ‘isento’ nos dias que correm.

Como servir a Deus sem trair o Diabo?

Foi o que tentou a Folha nesse caso.

De um lado, mitigar a cumplicidade pública entre ela e Serra.

De outro, ao comprometer o tucano, faze-lo de forma tão frívola, que levou o jornal a omitir até mesmo reportagens anteriores de sua própria lavra, que endossariam a denúncia da Siemens.

Em 26 de outubro de 2010, a Folha revelou que seis meses antes da licitação dos lotes 3 e 8 da linha 5 (Lilás) do metrô, sua reportagem já tivera acesso aos nomes dos vencedores das obras.

A Folha registrou então as empresas vencedores em vídeo e em cartório nos dias 20 e 23 de abril de 2010. (Leia a cópia da reportagem da Folha ao final dessa nota)

Se isso não é uma corroboração forte de práticas sistêmicas de conluio, corrupção e cartel no governo Serra, o que mais seria então?

Por que a Folha menosprezou esses antecedentes?

Por que, se eles enfraquecem sobremaneira as alegações de Serra, Alckmin e assemelhados de espanto com práticas idênticas relatadas pela Siemens, agora também na etapa de aquisição de equipamentos?

A frouxidão moral dos colunistas savonarolas, o laxismo ético dos editoriais tem motivo de força maior.

A mídia está envolvida até o pescoço nesse escândalo, sugestivamente só revelado por iniciativa da pata empresarial do negócio e da ação do Cade.

Seu envolvimento tem um nome: omissão.
E sobrenome: cumplicidade.

Como explicar que o diligente jornalismo bandeirante, sempre tão atento à malversação da coisa pública na esfera federal, nunca investigou a fundo aquilo que esteve o tempo todo diante do seu nariz?

E não só diante do nariz, mas, como se vê pela reportagem de 2010, em suas próprias páginas, em escândalos, todavia, rebaixados como episódicos e pontuais?

A mídia conservadora hesita, se retorce e se remói.

A dimensão sistêmica do que aflora no metrô de SP coloca-a diante de um duplo abraço de afogados.

Se não investigar a fundo esse episódio, veiculado a fórceps, naufragará como parceira carnal do tucanato.

Se investigar, com rigor e isenção, uma prática de 16 anos de governos que sempre contaram com seu esférico apoio, em algum momento, de certa forma, terá que investigar a si própria.

Leia abaixo, a reportagem da Folha de 2010, ’esquecida’ no episódio equivalente de 2013.

26/10/2010 - 03h00
Resultado de licitação do metrô de São Paulo já era conhecido seis meses antes

RICARDO FELTRIN
DE SÃO PAULO

A Folha soube seis meses antes da divulgação do resultado quem seriam os vencedores da licitação para concorrência dos lotes de 3 a 8 da linha 5 (Lilás) do metrô.

O resultado só foi divulgado na última quinta-feira, mas o jornal já havia registrado o nome dos ganhadores em vídeo e em cartório nos dias 20 e 23 de abril deste ano, respectivamente.

A licitação foi aberta em outubro de 2008, quando o governador de São Paulo era José Serra (PSDB) --ele deixou o cargo no início de abril deste ano para disputar a Presidência da República. Em seu lugar ficou seu vice, o tucano Alberto Goldman.

O resultado da licitação foi conhecido previamente pela Folha apesar de o Metrô ter suspendido o processo em abril e mandado todas as empresas refazerem suas propostas. A suspensão do processo licitatório ocorreu três dias depois do registro dos vencedores em cartório.

O Metrô, estatal do governo paulista, afirma que vai investigar o caso. Os consórcios também negam irregularidades ou "acertos".

O valor dos lotes de 2 a 8 passa de R$ 4 bilhões. A linha 5 do metrô irá do Largo 13 à Chácara Klabin, num total de 20 km de trilhos, e será conectada com as linhas 1 (Azul) e 2 (Verde), além do corredor São Paulo-Diadema da EMTU.

VÍDEO E CARTÓRIO
A Folha obteve os resultados da licitação no dia 20 de abril, quando gravou um vídeo anunciando o nome dos vencedores.

Três dias depois, em 23 de abril, a reportagem também registrou no 2º Cartório de Notas, em SP, o nome dos consórcios que venceriam o restante da licitação e com qual lote cada um ficaria.

O documento em cartório informa o nome das vencedoras dos lotes 3, 4, 5, 6, 7 e 8. Também acabou por acertar o nome do vencedor do lote 2, o consórcio Galvão/ Serveng, cuja proposta acabaria sendo rejeitada em 26 abril. A seguir, o Metrô decidiu que não só a Galvão/Serveng, mas todas as empresas (17 consórcios) que estavam na concorrência deveriam refazer suas propostas.

A justificativa do Metrô para a medida, publicada em seu site oficial, informava que a rejeição se devia à necessidade de "reformulação dos preços dentro das condições originais de licitação".

Em maio e junho as empreiteiras prepararam novas propostas para a licitação. Elas foram novamente entregues em julho.

No dia 24 de agosto, a direção do Metrô publicou no "Diário Oficial" um novo edital anunciando o nome das empreiteiras qualificadas a concorrer às obras, tendo discriminado quais poderiam concorrer a quais lotes.

Na quarta-feira passada, dia 20, Goldman assinou, em cerimônia oficial, a continuidade das obras da linha 5. O nome das vencedoras foi divulgado pelo Metrô na última quinta-feira. Eram exatamente os mesmos antecipados pela reportagem.

OBRA DE R$ 4 BI
Os sete lotes da linha 5-Lilás custarão ao Estado, no total, R$ 4,04 bilhões. Os lotes 3 e 7 consumirão a maior parte desse valor.

Pelo edital, apenas as chamadas "quatro grandes" --Camargo Corrêa/Andrade Gutierrez e Metropolitano (Odebrecht/ OAS/Queiroz Galvão)-- estavam habilitadas a concorrer a esses dois lotes, porque somente elas possuem um equipamento específico e necessário (shield). Esses dois lotes somados consumirão um total de R$ 2,28 bilhões.

OUTRO LADO
Em nota, o Metrô de São Paulo informou que vai investigar as informações publicadas hoje na Folha.

A companhia disse ainda que vai investigar todo o processo de licitação.

"É reconhecida a postura idônea que o Metrô adota em processos licitatórios, além da grande expertise na elaboração e condução desses tipos de processo. A responsabilidade do Metrô, enquanto empresa pública, é garantir o menor preço e a qualidade técnica exigida pela complexidade da obra."

Ainda de acordo com a estatal, para participação de suas licitações, as empresas precisam "atender aos rígidos requisitos técnicos e de qualidade" impostos por ela.

No caso da classificação das empresas nos lotes 3 e 7, era necessário o uso "Shield, recurso e qualificação que poucas empresas no país têm". "Os vencedores dos lotes foram conhecidos somente quando as propostas foram abertas em sessão pública. Licitações desse porte tradicionalmente acirram a competitividade entre as empresas", diz trecho da nota.

O Metrô afirmou ainda que, "coerente com sua postura transparente e com a segurança de ter conduzido um processo licitatório de maneira correta, informou todos os vencedores dos lotes e os respectivos valores".

Disse seguir "fielmente a lei 8.666" e que "os vencedores dos lotes foram anunciados na sessão pública de abertura de propostas". "Esse procedimento dispensa, conforme consta da lei, a publicação no 'Diário Oficial'".

Todos os consórcios foram procurados, mas só dois deles responderam ao jornal.

O Consórcio Andrade Gutierrez/Camargo Corrêa, vencedor da disputa para construção do lote 3, diz que "tomou conhecimento do resultado da licitação em 24 de setembro de 2010, quando os ganhadores foram divulgados em sessão pública".

O consórcio Odebrecht/ OAS/Queiroz Galvão, vencedor do lote 7, disse que, dessa licitação, "só dois trechos poderiam ser executados com a máquina conhecida como 'tatu' e apenas dois consórcios estavam qualificados para usar o equipamento".

"Uma vez que nenhum consórcio poderia conquistar mais que um lote, a probabilidade de cada consórcio ficar responsável por um dos lotes era grande", diz.

O consórcio Odebrecht/ OAS/Queiroz Galvão diz ter concentrado seu foco no lote 7 para aproveitar "o equipamento da Linha 4, reduzindo o investimento inicial".


Colaborou ROGÉRIO PAGNAN, de São Paulo 
Postado por Saul Leblon às 19:45