domingo, 19 de janeiro de 2014

QUANTOS SÁBADOS O IGUATEMI AGUENTARIA FECHADO?

Há 57 anos uma negra chamada Rosa Parks deu um rolezinho sobre as prerrogativas dos brancos no transporte coletivo de Montgomey, nos EUA.



O Museu Henry Ford, em Detroit, nos EUA, guarda inúmeras relíquias  da história norte-americana sobre rodas.


O veículo no qual  Kennedy foi baleado  está lá.

Gigantescas locomotivas  que desbravaram a expansão ferroviária do país no século XIX ilustram em toneladas de ferro e aço  o sentido da expressão revolução metal-mecânica.

Perto delas os esqueléticos Fords-bigode que deram origem à indústria automobilística, de que Detroit foi a capital um dia, parecem moscas.

O museu abriga  também um centenário ônibus da ‎ National City Lines, de número 2857, um GM com o número  1132, que fazia a linha da Cleveland Avenue na cidade de Montgomery, no Alabama,  em  1 de dezembro de 1955.

A ocupação de um assento  naquele ônibus  mudaria  a história dos direitos civis nos EUA promovendo um salto na luta pela igualdade  entre negros e brancos no país.

O verdadeiro símbolo do episódio não é o velho GM, mas a costureira e ativista dos direitos dos negros, Rosa Park (1923-2005) que  naquela noite se recusou   a ceder o lugar a um branco.

Rosa tinha 40 quando desafiou a física do preconceito no Alabama dos anos  50, segundo a qual  brancos e negros não poderiam usufruir coletivamente do mesmo espaço, ao mesmo tempo.

Rosa Parks viveria mais 50 anos para contar e recontar esse rolezinho sobre as prerrogativas dos brancos , que transformaria  o velho GM em um centro de peregrinação política.

O último presidente a sentar-se no mesmo banco do qual ela só saiu presa  foi Barak Obama.

Em 2012 depois de alguns segundo em silencio no mesmo lugar, ele disse: ‘É preciso um gesto de coragem das pessoas comuns para mudar a história’.

Rosa Parks era uma pessoa comum até dizer basta a uma regra sagrada  da supremacia branca nos EUA.

Em pleno boom de crescimento do pós-guerra, quando  negros se integravam ao mercado de trabalho e de consumo norte-americano, eles não dispunham de espaço equivalente nem no plano político, nem nos espaços públicos, como o interior de um veículo de passageiros.

No Alabama os bancos da frente dos ônibus eram exclusivos dos brancos;  os do fundo destinavam-se  aos negros.

Detalhes evitavam o contato entre as peles de cores distintas: os negros compravam seu bilhete ingressando pela porta da frente, mas deveriam descer e embarcar pela do fundo.

À medida  em que os assentos da frente se esgotavam  os negros deveriam  ceder seu lugar a um novo passageiro branco que embarcasse no trajeto.

Rosa Parks estava fisicamente exausta  aquela noite  e há muitos anos cansada  da desigualdade que  humilhava sua gente.

Ela recusou a ordem do motorista e  não cedeu o lugar mesmo ameaçada. Sua prisão  gerou um boicote maciço dos negros de Montgomery.

Durante longos meses eles  que se recusaram a utilizar o transporte coletivo da cidade provocando atrasos nos locais de trabalho e prejuízos às empresas de transporte.

Milhões de panfletos explicativos  seriam distribuídos diariamente; de forma pacífica,  grupos de ativistas vasculhavam os pontos de ônibus da cidade para convencer  negros a aderi ao boicote.

Quase um ano depois  a lei da segregação dentro dos  ônibus foi extinta.

Neste sábado, um dos shoppings mais luxuosos de SP , o Iguatemi JK, cerrou as portas para impedir  que movimentos sociais fizessem ali um protesto contra a discriminação em relação aos pobres.

O Iguatemi foi um dos pioneiros a obter liminar na Justiça de SP autorizando  seguranças a selecionar o ingresso de clientes  para barrar a juventude dos rolezinhos - marcadamente composta de  jovens da periferia,  pretos, mestiços e pobres.

A memória dos acontecimentos de 57 anos atrás em Montgomery convida a perguntar :

 - A exemplo das transportadoras racistas do Alabama, quantos sábados o Iguatemi aguentaria de portas cerradas, cercado por manifestações pacíficas  e desidratado pela fuga de seus clientes tradicionais?

por: Saul Leblon 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

14 PERGUNTAS A SEREM RESPONDIDAS EM 2014

Quando saberemos quem era o dono da cocaína apreendida no helicóptero?

O mensalão tucano irá a julgamento ou se aguardará a prescrição dos crimes?

1.       Será ético – e minimamente justo - que um juiz do STF ou do STJ, julgando partidos e políticos hoje não estariam se precavendo contra potenciais adversários políticos amanhã?
 
2.       A propósito, com alguns ministros mostrando assanhamento para ingressar na cena política – Joaquim Barbosa (STF) flerta com o Planalto embalado pela grande mídia e Eliana Calmon (STJ), recém filiada ao PSB, assumir que vai concorrer a uma vaga no Senado pela Bahia – não deveriam existir regras de quarentena, tipo um ou dois anos de desincompatibilização do ofício de julgar, principalmente em se tratando de ministros de Tribunais Superiores?
 
3.       Quando saberemos quem era o dono da cocaína apreendida no helicóptero do senador mineiro Zezé Perrela?
 
4.       E mais: não é esquisito que as investigações da PF foram no sentido de esclarecer “quem não era o dono” da cocaína no helicóptero?
 
5.       Serra desistiu da terceira candidatura à Presidência ou, analisando o Ibope, entendeu ser essa uma canoa pra lá de furada?
 
6.       Além da estátua do imenso poeta Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana, quem mais atendeu ao convite para uma conversa com o presidencial Aécio Neves?
 
7.       Pilhado duas vezes fazendo uso indevido de aviões da FAB neste mesmo ano de 2013, será que a única punição ao presidente Renan Calheiros é a de ressarcir o custo das passagens aéreas?
 
8.       E um Senador quando se interna em spa na Costa do Santinho, em Santa Catarina, para dar uma repaginada facial com uso de botox, as despesas devem ser cobertas pelo Senado?
 
9.       Será defensável, em um país com aceleração inaudita dos meios digitais acessíveis a parcelas significativas da população, que o governo Alckmin adquira 5.200 assinaturas anuais, relativas a 52 edições, das revistas Veja, Época e IstoÉ para a rede pública de ensino do Estado de São Paulo?
 
10.    Por quê cargas d´água o governo Alckmin não incluiu a semanal CartaCapital no rol dos favorecidos? Filtro ideológico?
 
11.    Circulam informações dando conta que no período de 2004 a 2008 foram pagos perto de R$ 250 milhões à Abril – editora responsável pela revista Veja -, FolhaEstadãoGlobo/Fundação Roberto Marinho, mas a questão é: porque tais contratos milionários foram feitos “a maioria sem licitação”?
 
12.    O mensalão tucano, usando o mesmo esquema Marcos Valério e avô do mensalão petista, irá a julgamento em 2014 ou primeiro se aguardará que novos personagens – dois já foram! - se beneficiem com a prescrição dos crimes?
 
13.    Que fim levaram as investigações de fraudes grosseiras na coleta de assinaturas para registro do partido Solidariedade?
 
14.    O que é melhor ler nessas férias: “A divina comédia” de Dante Alighieri ou desperdiçar tempo e dinheiro com o “A década perdida” de Marco Antonio Villa?

Créditos da foto: josé cruz/ABr

FONTE:http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/14-perguntas-a-serem-respondidas-em-2014/4/29903