sexta-feira, 16 de novembro de 2012

AMOR PARA OXIGENAR SP

O que era no início somente um alerta contra uma candidatura conservadora pode se tornar um movimento permanente do ativismo cultural e social
Em menos de um mês e a um custo inferior a R$ 20 mil, eles conseguiram uma façanha de dar inveja a publicitários, produtores culturais e marqueteiros. Transitando com desenvoltura na corrida eleitoral da maior cidade da América Latina, em um terreno em que a maioria dos partidos ainda engatinha, as redes sociais atraíram mais de 10 mil pessoas à Praça Roosevelt, na região central de São Paulo. O espaço que acaba de ser reaberto após anos em obras foi palco para shows de Criolo, Gabi Amarantos, Emicida e Karina Buhr e protagonizou uma surpreendente campanha de valorização da cultura e da cidade.
O que começou como um ato contra o conservador Celso Russomanno (PRB) culminou em uma grande agitação cultural a uma semana do segundo turno, sem assumir bandeiras de candidaturas e com potencial de constituir um novo movimento. Seus organizadores querem tentar manter viva a campanha para cobrar da prefeitura ações como a desmilitarização de subprefeituras, o fim de medidas restritivas ao ativismo artístico adotadas na gestão de Gilberto Kassab (PSD), melhor infraestrutura e mais liberdade para uso dos equipamentos públicos em eventos de manifestações populares.
A primeira reunião na Praça Roosevelt foi marcada uma semana antes do 7 de outubro, com o mote nada indiscreto “Amor sim, Russomanno não”. Para o jornalista Bruno Torturra, um dos organizadores, um eventual cenário Russomano x Serra no segundo turno paulistano afastaria qualquer possibilidade “mudancista” na administração da cidade.
Mesmo após a exclusão de Russomanno do segundo turno (ele ficou em terceiro na votação), os organizadores mantiveram a ideia no ar. Um novo encontro, ampliado, foi programado para a mesma praça, um domingo antes do segundo turno. O acontecimento agora foi nomeado Existe Amor em SP – em alusão ao rap Não Existe Amor em SP, de Criolo. Sem declarar preferência por um dos candidatos que disputavam o segundo turno, a proposta foi ampliar o foco da mobilização para além da eleição, com o objetivo permanente de cobrar melhorias sociais, nas áreas de cultura e de direitos humanos, qualquer que fosse o resultado. “Não temos nenhum vínculo com nenhum partido ou candidato, fizemos o show na base do voluntarismo, os músicos não cobraram nada, o pessoal da aparelhagem fez um preço supercamarada e fizemos vaquinha para bancar tudo”, diz Bruno.
Tiago Vinícius Paula da Silva, militante da União Popular de Mulheres e articulador do Banco Comunitário União Sampaio e da Agência Popular Solano Trindade, do Jardim Maria Sampaio, na zona sul também participou da organização. “Na periferia a pegada é outra. Nós estamos aqui para falar de extermínio, não de cultura”, afirmou ele, parodiando o que havia dito o rapper Mano Brown em um recente evento de campanha do petista Fernando Haddad. “Não dá pra falar de cultura, no momento, sem falar do extermínio que tá ocorrendo na periferia. Não dá nem pra fazer uma reunião em um bar ou outro espaço, porque tem o risco de morrer por causa do extermínio que tá rolando”, disse. Para ele, a participação dos grupos que atuam na periferia nessa empreitada deve ser mantida. “A gente deixa tudo claro.” 


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