domingo, 26 de outubro de 2014

UM DOMINGO DE ELEIÇÃO SOB A NÉVOA DO ATENTADO À DEMOCRACIA

Presidenta Dilma sofre golpe midiático às vésperas da eleição
pela 'Veja' e na véspera, pelo Jornal Nacional
Globo iguala seus piores momentos ao apresentar falsa denúncia contra Dilma na véspera da eleição e Aécio aceita tranquilamente uma mão da antidemocracia para chegar ao poder. Vitória da presidenta será derrota inigualável para mídia tradicional

Do portal da Rede Brasil Atual
São Paulo - O segundo turno mais longo da história chega a seus últimos momentos com o fim de semana mais longo da história. Quase 140 milhões de brasileiros vão às urnas hoje com a cabeça ali na frente. Hoje à noite, por volta de 20h, começaremos a ter certeza de qual futuro temos por adiante nos próximos quatro anos. Uma tensão que não é a tensão corriqueira de uma disputa eleitoral: caminhamos, desta vez, sob a névoa do atentado à democracia cometido de véspera pela Rede Globo. Temos o acúmulo de 113 dias de uma disputa surpreendente, agressiva, de baixo nível. Temos o cansaço pela má qualidade do debate político travado ao longo dos últimos 12 anos, particularmente em 2014.
Em 2010 esperamos que a mídia tradicional disparasse contra Dilma uma bala de prata que não veio, talvez pelo cálculo de que o desgaste para a reputação seria definitivo. Mas, passados quatro anos, o aumento do ódio, o descolamento entre jornalismo e realidade e a vantagem mais estreita entre a petista e seu adversário levaram a que se buscasse uma última cartada. A exibição pelo Jornal Nacional de uma denúncia trazida por uma revista ilegítima do ponto de vista da credibilidade, a partir de informações sabidamente inverídicas, não pode chegar a nos surpreender.
É a Globo, mais uma vez, tentando interferir na vontade eleitoral. Como fez, sem sucesso, nas últimas três ocasiões, e como fez, com sucesso, em 1989, quando elegeu para a presidência um Fernando Collor que logo se mostrou incapaz de segurar o pepino e acabou defenestrado. No ano passado, a família Marinho admitiu que se colocou do lado errado ao apoiar e ser base de sustentação da ditadura.
O passar do tempo confirma o que todos que acompanhamos a questão já sabíamos: arrependimento, uma ova – para usar a vovozista expressão ressuscitada nessas eleições. A Globo se lançou em uma empreitada arriscada para quem deve R$ 680 milhões à Receita Federal e vê sua audiência cair dia após dia, quase no mesmo ritmo de queda de sua credibilidade.
A reportagem, que a um primeiro olhar pode soar equilibrada, tem alguns agravantes que precisam ser levados em conta. Primeiro, sua duração, de seis minutos, incomum para o padrão Globo de jornalismo, sempre tão comprometido com a superficialidade da informação. Depois, por se valer de um pretexto para levar a “denúncia” da revista Veja ao ar: o “ataque” à sede do Grupo Abril, na zona oeste de São Paulo, serviu como mote para dizer que Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva sabiam de um esquema de corrupção na Petrobras. Lá pelas tantas na reportagem surge a figura de Aécio Neves, que, também sob a desculpa de condenar a repressão, ganha mais alguns preciosos segundos para lançar seu discurso moralista e atacar o PT e a presidenta. Oras, o que fazia o tucano numa matéria a respeito de um tema com o qual não tem qualquer ligação?
Não perca a conta. Em quarto lugar, quando o Jornal Nacional levou ao ar o conteúdo, já havia decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que apontava na reportagem de Veja o uso de conteúdo inverídico, trazido à tona com clara intenção de manipular a disputa eleitoral. A sentença do ministro Admar Gonzaga, que concedeu direito de resposta a Dilma, foi apenas breve menção ao final dos seis minutos de exposição negativa para a presidenta. Para finalizar a lista de agravantes, observe-se o momento em que o caso foi ao ar: no sábado à noite, quando já se conhecia a denúncia desde a véspera, para que a petista tivesse tempo de obter direito de resposta ou pudesse se valer do debate na própria Globo para peitar a corporação.
A emissora dos Marinho mostra que, entre seu passado de apoio à repressão e seu recente presente de arrependimento, abraça alegremente o primeiro. Conta, para isso, com o também previsível apoio de Aécio, que encarna melhor que seus antecessores na disputa, José Serra e Geraldo Alckmin, o papel do vamos-tirar-o-PT-do-poder-a-qualquer-custo.
O senador mineiro evidencia que não se importa se sua vitória será conquistada com a apresentação de propostas ou com uma manipulação acintosa. Se não conseguiu, mediante suas ideias, estar à frente de Dilma na véspera da votação, aceita tranquilamente uma mãozinha que tente lhe empurrar ao Palácio do Planalto.
Se triunfar em sua estratégia, terá nos manuais de história brasileiros uma vitória marcada com asterisco, um campeonato vencido no tapetão. A honra e a ética, valores que jura defender, passaram longe quando encampou a estratégia de Veja, distribuída país afora como material de campanha, no último episódio de uma eleição absolutamente lamentável. Aécio sabe que, se sair vencedor, não será pelos valores meritocráticos que tanto ressalta, mas pelo aparelhamento midiático que nunca quis admitir.
Por outro lado, a vitória de Dilma representará uma derrota inesquecível para uma mídia tradicional que nunca esteve tão unida no intento de derrubar o partido há 12 anos chegado ao Planalto. Será difícil continuar a fingir neutralidade e imparcialidade depois de tantos episódios lamentáveis, com uma cereja do bolo que a tudo faz desmoronar. Aécio será a cabeça de um fracasso retumbante, de uma resposta popular a um abuso autoritário cometido sob o manto da democracia.
Vencedora, Dilma terá de pensar se tem estômago para fazer as pazes com esta mídia ou se tomará atitude completamente diferente, batalhando pela democratização da comunicação e mudando a distribuição de verbas de publicidade oficial para deixar de legitimar veículos que, aos olhos da democracia, tornam-se ilegítimos.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CONHEÇA O VERDADEIRO BOLSA FAMÍLIA DE AÉCIO


Aécio não criou o Bolsa Família, mas, de certa forma, foi beneficiário de um programa que poderia ter o mesmo nome - embora com significado bem diferente. Sua carreira foi marcada por uma série de benefícios recebidas por ele de familiares. E, depois de eleito governador, foi a vez dele estender essa ajuda aos parentes. Uma rede de assistência familiar no mínimo bem distante da meritocracia que apregoa.

O candidato recebeu uma ajuda valiosa no início de sua vida profissional: segundo admitiu à Folha de S. Paulo após dias de acusações na imprensa, Aécio foi contratado pelo pai, que era deputado, para trabalhar como funcionário de seu gabinete. Além da nomeação para o cargo com apenas 19 anos - sem precisar passar por nenhum tipo de concurso - Aécio admite que, apesar do emprego ser em Brasília, ele morava no Rio de Janeiro. Ou seja, a 936 km de distância do trabalho. 

Em 1983, após alguns anos recebendo esse salário do erário público, Aécio ganhou mais um cargo por causa do parentesco. Tancredo Neves, um de seus dois avôs na política - o outro é Tristão Cunha, que foi deputado durante mais de uma década e ajudou a eleger deputado o filho Aécio Cunha, pai de Aécio Neves - foi eleito governador de Minas e escolheu o neto de 23 anos como seu secretário particular.

Tancredo Neves foi então escolhido presidente do Brasil. Mas morreu antes de tomar posse, deixando o governo para seu vice José Sarney. O Ministro da Fazenda de Sarney era Francisco Dornelles, primo de Aécio. Aos 25 anos, Aécio foi nomeado por Dornelles diretor da Caixa Econômica Federal. No ano seguinte, Aécio é eleito deputado pela primeira vez - e em 1987 já tinha recebido do governo a concessão de quatro rádios. 

Quando se elegeu governador, Aécio seguiu a tradição familiar e manteve seus parentes por perto. Andrea Neves, sua irmã, coordenou o Grupo Técnico de Comunicação do Governo. Esse é o órgão responsável, por exemplo, por fiscalizar as verbas que iam pras rádios dele, como você pode ler nesta reportagem do UOL.Andrea também foi presidente de uma entidade do Terceiro Setor, o Servas, desde o primeiro governo de Aécio até janeiro desse ano. Intricadas relações familiares colocam outras pessoas em postos-chave do governo, como pode ser visto nesta reportagem desta semana da Folha de S. Paulo.